A educação no estado do Ceará tem assumido uma postura em nível básico (Ensino Fundamental anos iniciais e finais e Ensino Médio) de universalização de ensino em tempo integral. De um ponto de vista prévio pode parecer algo interessante. "Ora, nossas crianças estarão o dia todo o dia todo na escola, isso é legal, certo?!"
Esta certeza começa a ser questionada, e até quebrada, quando paramos para refletir sobre algumas questões fundamentais da educação: estrutura e valorização profissional. Passamos por uma crise no sistema educacional cearense. Em um nível municipal temos escolas sem estrutura física para receber a quantidade enorme de estudantes que compõem a totalidade o corpo discente, ou seja: não tem espaço pra tanta criança, ou pra tanto adolescente. Podemos compreender essa falta de estrutura a partir de duas óticas: negligencia e desvio de verba.
Por um lado podemos compreender que nossas escolas não possuem estruturas adequadas para comportar os estudantes porquê esta implementação do ensino em tempo integral está sendo realizada "nas cochas". Isso quer dizer que, de cima pra baixo na estrutura hierárquica da educação no estado, não está havendo um diálogo em que a secretaria estadual olhe com atenção para os municípios e suas escolas. Neste sentido fica a cargo única e exclusivamente para os município todas as reestruturações das escolas e espaços de ensino para aplicação destas reformas educacionais. Municípios esses que nem sempre estão com o orçamento adequado para reformas tão abrangentes.
Porém, podemos analisar a partir de uma perspectiva não tão otimista. Sabemos que vivendo no Brasil a corrupção o desvio de verbas públicas é algo quase cultural. Infelizmente "o jeitinho brasileiro" continua muito presente em nossas praticas políticas, algo que se eleva vezes mil no caso dos nossos representantes. Isso recai de forma muito brutal sobre as verbas relacionadas a educação básica, seja desvio de verbas de merenda, super faturamento de obras ou simplesmente não execução das mesmas.
Com as questões estruturais explanadas, passemos agora para o trato com os professores. E neste caso podemos ampliar para o ensino em nível superior. Temos no Ceará uma crise educacional em todos os seus níveis no que tange aos professores. Temos professores despreparados, salários defasados, professores sobre carregados, diversos concursos sem convocação e etc. Em nível municipal podemos falar sobre a função de professor ou cuidador como favor político. Não é incomum em cidades do interior termos "professores" com nível, no melhor dos casos, médio. Os prefeitos e vereadores fazem de sala de aula moeda de troca, onde trocam o emprego de professor e cuidador de crianças especiais por votos, algo que só faz os níveis de aprendizagem de nossos alunos decaírem. Já em nível estadual podemos citar as diversas ameaças de greve, algo que se aplica também ao nível superior, reivindicando melhores salários e melhores condições de trabalho, visto que tivemos sancionado ultimamente um reajuste e um aumento do salário dos professores pelo governo federal.
Temos também o caso dos bolsistas de universidades públicas, como é o meu caso. Sou bolsista na Universidade Regional do Cariri desde 2020, e desde esse mesmo ano que as bolsas são 450,00 R$ (quatrocentos e cinquenta reais), valor esse que já era pago desde antes da minha entrada na universidade. Tivemos recentemente, assim como os professores, um reajuste pelo Governo Federal, algo que não ocorre a nível estadual. Temos também a organização estudantil dos universitários em luta pelo reajuste, muito presente na campanha nas redes sociais #REAJUSTAFUNCAP, sendo FUNCAP (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento) a entidade responsável a nível estadual pelo reajuste e repasse das verbas para universidade. As bolsas universitárias são fundamentais para a permanecia dos estudantes na universidade, estudantes esses que são produtores de ciência, ou seja, são produtivos para o estado e para o país, por tanto devemos ser tratados com respeito, bem como os professores.
Merecemos uma atenção real por parte do governo do estado, a universalização do ensino em tempo integral deve ser tratada com cuidado e com planejamento para que seja realizada de forma adequada, os professores merecem respeito!
Os jovens estão aqui. Nos notem! Nos vejam! Nos ouçam!